domingo, 6 de setembro de 2009

Atrofias e disfunções

O Brasil vive um momento de atrofia política, calcado que está num modelo de financiamento de campanhas que acaba se resumindo em verdadeiro “toma lá da cá” entre empresários e governos.

A Folha online alertou, em edição recente, para o vínculo perigoso entre as doações, a defesa de interesses particulares e a troca de benefícios.

Esse modelo torna governantes e parlamentares reféns de empresas nacionais e multinacionais, ensejando a dispensa não criteriosa de licitações e a venda de obras dos governos em troca de propinas anteriores e posteriores.

A matéria, também publicada na edição de ontem do Jornal Pequeno, revela as empresas que ajudaram a eleger o senador José Sarney, que captou 1 milhão 698 mil reais para sua última campanha. Mas este é apenas um detalhe no enorme painel de contribuições eleitorais do país que se configura em mastondôntico desperdício de verbas e faz das eleições brasileiras uma das mais caras do mundo.

O portal da Folha de São Paulo alerta que empresas que ajudam políticos corruptos ou envolvidos em escândalos contribuem para perpetuar a corrupção no país. Falta uma Reforma Política que discipline o financiamento de campanhas eleitorais de formas a evitar que o dinheiro privado escape das contas de pessoas jurídicas como empréstimo a ser pago a juros nunca imagináveis com o dinheiro público.

Não bastasse a carga tributária astronômica que recai sobre o povo brasileiro, o contribuinte ainda está obrigado a avalizar a eleição de personagens constantes na crônica das improbidades administrativas, desvios de verbas e até as quadrilhas que se organizam para assaltar a Nação.

Cria-se, assim, uma relação incestuosa entre a iniciativa privada e o poder público. Forma-se uma gangorra cujo vai-e-vem dilapida, acima e abaixo, o patrimônio do povo brasileiro e desmancha dignidades, cidadanias, patrocinando a pobreza, o desmonte do sistema de saúde, sacrificando um bem inalienável para qualquer país subdesenvolvido: a educação.

A partir daí, disfunções de todos os gêneros atacam as instituições públicas, e o que era de se preservar se dilui nos corredores do poder.

Sem sombra de dúvidas, Sarney, neste momento, é o exemplo clássico destas disfunções, por todas as tripulias cometidas no Senado e pelo concubinato com os mais projetados atores da corrupção. Mas ele, mesmo dentro da matéria, é apenas a figura mais triste da República quando se trata de padrões de ética e lisura política. Neste Brasil de mais de 5 mil municípios e prefeitos, milhares de vereadores e deputados, além dos senadores, é impossível calcular a conta a ser paga por estas doações. Este comportamento atrofia a gestão pública e difunde o crime de colarinho branco como atividade legal. (Editorial Jornal Pequeno)

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