quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Filme e livro sobre o clã Sarney sangrariam R$ 900 mil da Cultura

VULTOS NOTÁVEIS’
Projeto – que cultua Sarney, Roseana, Fernando e Zequinha – foi rejeitado pelo Ministério da Cultura por ‘falta de relevância cultural’


RODRIGO COUTO
Do Correio Braziliense

Sob o argumento de homenagear em livro e documentário 30 cidadãos ilustres e notáveis do Maranhão — entre eles o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e seus filhos Zequinha, Roseana e Fernando —, o escritor paraense Henrique Arthur de Souza, que vive em Brasília desde sua fundação, apresentou dois projetos de enquadramento na Lei Rouanet no valor total de R$ 890.540,80. Por unanimidade, os integrantes da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura rejeitaram as propostas por considerá-las sem relevância cultural. O Correio apurou que a dona da Vemas Produções Ltda., proponente da concessão dos recursos de isenção fiscal, não sabia do conteúdo e nem o nome do autor das proposições.

Procurada pela reportagem em seu escritório na QI 6 do Guará I, a proprietária da Vemas, Vera Lucia Sampaio, foi encontrada em casa, a poucos metros do local. “Só fiquei sabendo disso por vocês. Cedi o nome da empresa para o Helder (Junior) apresentar esse projeto que é de um amigo dele. Mas não sei o teor e nem o autor”, afirmou Vera, ao admitir que ganharia 10% sobre o valor total dos projetos. “Não sou rica. Moro de aluguel, tenho carro financiado em 60 meses e estou com o cheque especial estourado”, contou. À noite, ela confirmou que não conhece pessoalmente Henrique Arthur, “mas que ele parece ser um homem honesto.”

Admirador de José Sarney, Henrique Arthur contou que teve contato apenas duas vezes com o presidente do Senado. “Uma em 2003, quando ele era presidente do Senado. À época, entreguei a ele três volumes com os resultados a respeito da história familiar do ex-senador Henrique de La Rocque e ele gostou muito. A outra, este ano, quando estava passando pelos corredores do Congresso. Tentei cumprimentá-lo, mas ele nem me viu”, relatou. Questionado sobre possível relação de amizade com Sarney, ele respondeu enfático: “Quem dera!”. Apesar da negativa, Sarney escreveu a apresentação do livro Entrelaços de Família, de autoria do próprio Henrique, em 2003. Segundo o estudioso, a homenagem de Sarney teria sido acordada no encontro sobre La Rocque.

Memórias – Intitulados “Filhos Ilustres” e “Vultos Notáveis da Athenas Maranhense (Em Entrelaços Familiares)”, o documentário e o livro de arte prevêem a produção de uma obra escrita com histórias, biografias e memórias dos cidadãos que passaram pelo estado de 1700 até 2009, “com ênfase em suas atuações no cenário político e cultural maranhense e brasileiro, especialmente no que se refere à dedicação ao bem-estar de seu povo e ao desenvolvimento do Maranhão.”

Com previsão de 70 minutos, o documentário tem orçamento de R$ 494.554,60. Já o livro de arte, com 200 páginas, tem previsão de gastos de exatos R$ 395.986.20. Acostumada a ceder o nome da empresa para projetos culturais de conhecidos, Vera Lucia disse que sempre confiou nos amigos. “Agora vou ficar mais atenta. A única coisa que fiquei sabendo na hora de juntar os documentos e enviar ao MinC é que era um projeto sobre o Maranhão”, salientou. “Aquele lugar que vocês foram não é meu escritório, é um depósito onde guardo banheiros químicos. Minha empresa fica num quarto nos fundos da minha casa”, completou.

No início da noite, o Correio entrou em contato com a assessoria de imprensa de José Sarney, segundo a qual não seria possível manter contato com o presidente do Senado. Também procurado pela reportagem, o produtor cultural Helder Junior não atendeu as ligações.

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