quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Jarbas: grupo anti-Sarney ‘pode ser reduzido a dez’

Dissidente do PMDB e ferrenho opositor de José Sarney, Jarbas Vasconcelos (PE) ruminava na noite passada “o gosto amargo da derrota”.

Em entrevista ao blog, revelou-se decepcionado com o esfriamento dos ânimos da oposição. “É claro que o arrefecimento é ruim. Pode levar à desmotivação”.

De sua parte, diz que vai “continuar falando”. Acha que não ficará só. Mas reconhece:

“Pode ser reduzido a algo como dez senadores” o grupo disposto a continuar deblaterando conta o bloqueio às investigações no Senado.

“O importante é que esse grupo, ainda que não chegue a uma dezena, vai fazer tudo para que as coisas não passem em branco”.

Abaixo, a entrevista:

- Houve acordo?

Até onde pude acompanhar o processo, não vi acordo. Até porque havia uma consciência de que isso levaria a oposição à desmoralização.

- Mas houve um recuo no discurso, não?

Houve. Atribuo esse recuo à desarticulação da oposição. Temos uma organicidade reduzida demais.

- Se não houve acordo, o que aconteceu?

A gente ficou na dependência do PT, que ziguezagueou o tempo todo. A vitória de Sarney deve ser creditada ao PMDB e a Lula. O PMDB fez ameaças a Lula, que interveio no PT.

- E quanto ao comportamento da oposição?

Ela continua tímida e desorganizada. Isso também influenciou muito. Essa onda de acordão não surgiu do nada. A oposição deu ensejo a isso quando arrefeceu e permitiu que fossem criados hiatos no processo. O esforço precisa ser contínuo.

- Que análise faz do resultado?

Com esse Conselho de Ética, estava claro que a gente não conseguiria nada. Tínhamos cinco votos num universo de 15. E do lado de Sarney havia uma tropa de choque agindo fora de todos os limites.

- A ação da tropa de choque levou à contemporização, não?

Tive essa impressão também. Mas a nossa desorganização contribuiu muito para o desfecho. E veio a tibieza do PT. Hora nenhuma o PT deixou claro que se insubordinaria às ordens de Lula. O PT jogou muito mal.

- Poderia ter jogado de outro jeito?

Claro que sim. Veja a situação da bancada do PT. Ficou em frangalhos. A manifestação do senador Flávio Arns [PT-PR], homem tradicionalmente moderado, diz tudo. Ele não suportou o quadro que viu.

- A crise vai murchar?

Não. Esse resultado expôs ainda mais as entranhas do Senado. A estratégia de Sarney pode dar a ele alguma sobrevida, não vida eterna.
- Por que não?

As denúncias não vão parar. Boa parte das notícias foi feita com base em investigação da Polícia Federal. Não foi a oposição que inventou. Mantendo-se esse quadro de denúncias, o Senado ficará em situação mais vexatória.

- Acha que a oposição está disposta a esticar a corda?

Não creio. O DEM, para chegar onde chegou, não foi fácil. O Agripino [Maia] fez das tripas coração. O partido tem muitas pessoas ligadas a Sarney.

- Não se sente frustrado?
Muito frustrado. É uma decepção profunda. Um gosto amargo de derrota. Mas tenho a consciência de que estamos contribuindo para expor o que é o Senado, uma Casa que clama por reformulação.

- Não receia ficar falando sozinho?

Vou continuar falando. Acho que sozinho eu não fico. Mas mesmo que fique com alguns poucos, acho que é importante a gente continuar falando. Isso não é ser cavalo do cão nem dom Quixote. É claro que o arrefecimento é ruim. Pode levar à desmotivação. Mas não creio que um pequeno grupo continuará na briga.

- Vai assinar o recurso contra o arquivamento das ações?

Já assinei. Seria muito importante que DEM e PSDB também assinassem. Mesmo que não fossem todos, mas a maioria das duas bancadas.

- Não acha curioso que a iniciativa do recurso tenha partido do PSOL?

O ideal era que não fosse comandado pelo PSOL. A iniciativa deveria ter sido de um grande partido.

- Fica claro o arrefecimento da oposição, não?

Sim, claramente. O que é uma pena. Sempre externei esse receio nas nossas minhas conversas. Disse que, se a leitura da imprensa fosse a de que tinha havido um acordo, isso nos desmoralizaria. Se a gente não tivesse jogado todas as fichas no PT, esse cheiro de acordão não teria chegado perto da oposição. Perdemos porque o PT, sob ordens de Lula, negou seus três votos no conselho.

- Não lhe parece que o cheiro de acordo se deve ao recuo da oposição diante das ameaças do PMDB de Renan Calheiros?

Ficou, de fato essa impressão. O próprio discurso de Tasso Jereissati, feito há 15 dias, deixou essa impressão. Ele foi à tribuna para pedir desculpas. Chegaram a noticiar que tinha se desculpado com Renan. Uma inverdade. Ele se desculpou à sociedade por ter se deixado envolver num episódio lamentável. A investida de Renan e Collor contra Simon também deixou amedrontada muita gente. Tudo isso somado à nossa desorganização e às intervenções antiéticas de Lula levaram a esse resultado desastroso.

- Sarney disse que o Senado voltará ao normal. Concorda?

O Sarney diz cada coisa! É claro que não vai voltar ao normal. Não creio que ele vá presidir a Casa como se nada tivesse acontecido. As denúncias não vão estancar.

- Que tamanho terá agora a bancada anti-Sarney?

Nesse ‘day after’, não podemos fingir que nada aconteceu. Pode ser que alguém desapareça do processo. Certamente teremos perdas. Mas não creio que haja recuo de pessoas como Demóstenes Torres, eu e Pedro Simon, Tião Viana, Cristovam Buarque, Álvaro Dias, José Nery e outros.

- Sua lista traz sete nomes. Não é pouca gente?

Torço para que o grupo seja maior, mas reconheço que pode ser reduzido a algo como dez senadores. O importante é que esse grupo, ainda que não chegue a uma dezena, vai fazer tudo para que as coisas não passem em branco. Insisto: Não se pode fingir que nada aconteceu.(Com informações do Blog do Josias de Souza)

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